As pessoas verdadeiramente humanas, educadas e formadas nos valores
fundamentais, que a caraterizam como um ser superior, portanto,
acima das minudências mesquinhas da vida egocêntrica, por vezes,
excessivamente materialista e, aparentemente, alheia às preocupações
e dificuldades da família e dos amigos, certamente que se revelam pelos
seus gestos, palavras, atitudes, e comportamentos simples, como
sendo, afinal, próprios de caráteres bem-formados, generosos,
tolerantes e magnânimos.
De facto: é nas muitas e pequenas coisas da vida quotidiana que melhor
se compreende a estrutura ético-moral e psicossocial de uma pessoa;
não tanto nas grandes e várias intervenções, esporádicas, por vezes,
muito bem elaboradas, calculadas no tempo, no espaço e nas circunstâncias
mais propícias à admiração, ao elogio, à tentativa de rotulagem altruísta,
que alimentam o ego, a vaidade e a ideia de importância, no seio de um
determinado grupo societário.
Naturalmente que são muito importantes e, em algumas situações, a prática
de atos verdadeiramente corajosos, altruístas, benevolentes, inimitáveis,
e que as pessoas que os praticam com honestidade intelectual e
ético-moral, despojadas de quaisquer interesses materiais, que ocorrem e
se destinam, exclusivamente, a um bem-comum, ou mesmo particular,
no sentido de proporcionar uma situação melhor, à que vigorava antes
de tal ato, então, nestas circunstâncias, o correspondente comportamento
é louvável e deve ser objeto da mais elevada consideração, estima e até
amizade para com a pessoa que assim procede.
Certamente que também se conhece, por outro lado, que há pessoas que,
ao longo da sua vida, no seu dia-a-dia, praticam atos, proferem palavras,
assumem atitudes que, passando, inclusivamente, despercebidas aos olhos
da maioria, por serem simples, humildes e discretas, que pouca importância
se lhes atribui, porém, revelam, inequivocamente, o bom caráter destas pessoas,
a sua apreciação, afeição e, eventualmente, amizade e respeito pelos
seus semelhantes.
No decurso da vida exercem-se múltiplas funções, envolvemo-nos em
diferentes relacionamentos, convivemos em diversos contextos e,
em todas as situações, temos sempre a oportunidade de sermos verdadeiros,
genuínos e simples, aplicarmos com sinceridade os nossos valores e
sentimentos, deixarmos as nossas emoções fluir, sem complexos. Tudo isto é
possível, e quanto mais caminhamos pela “estrada da vida”, e nos aproximamos
do seu fim, mais vulneráveis ficamos, porque a sensibilidade como que se
refina, na aprendizagem que vamos adquirindo na Universidade da Vida.
Com efeito: «A escola da vida é que nos está dando oportunidade de aprendermos
a nos tornarmos melhores pessoas, mais sábias, inteligentes,
menos carentes, mais autênticas e maduras. Estamos procurando
ter mais consideração, dignidade, honra, respeito e liberdade.
E aplicá-los na prática com sabedoria, seja na família, na sociedade
ou no mundo corporativo.» (CARVALHO, 2007:13).
Como é bom recebermos a: atenção, consideração, estima e carinho
de pessoas simples, que têm atitudes nobres, com autêntica humildade,
em que um sorriso e um brilho nos olhos, nos transmitem sentimentos de
verdadeira amizade, de grande simpatia; como é bom termos essas
pessoas, incondicionalmente, do nosso lado, solidárias e leais, que nos
protegem, nos apoiam em pequenos e grandes projetos que, generosamente,
nos compreendem e toleram, sempre com imensa ternura e afabilidade;
como é importante sabermos preservar, com afeição, cumplicidade,
confiança e gratidão, estas pessoas que revelam por nós um verdadeiro
“Amor-de-Amigo”, sem reservas nem suspeições.
Que bom que é usufruirmos de uma relação de profunda afeição com
estas pessoas simples, tímidas, mas com um caráter magnânimo.
Todos caminhamos pela “linha irreversível da vida”, e a maior gratificação
que se pode obter é, sem dúvida alguma, sabermos que não estamos sós.
Tudo indica que: «Com a idade, poderá encontrar-se rodeado de amigos
e pessoas que se preocupam genuinamente consigo, que proporcionam
toda a segurança que resulta de ser amado e tratado com dignidade e respeito.
Esses amigos, essas pessoas, tornam-se então a sua verdadeira família.
Essas pessoas também podem partilhar os seus valores espirituais.»
(BRIAN, 2000:103).
A simplicidade comportamental implica uma grande complexidade nos
relacionamentos, na medida em que postula a recusa de princípios,
valores, sentimentos e emoções inverdadeiros. Sabe-se que a autenticidade
das nossas palavras, atos e atitudes têm de garantir previsibilidade,
confiança e seriedade.
Talvez devido a uma tal dificuldade é que muitas pessoas se revelam
extremamente flexíveis que: tanto afirmam estar do lado de uma
pessoa e situação; como, quase em simultâneo, demonstram, exatamente
o contrário. Nestas circunstâncias é muito difícil confiar em tais pessoas
, e só uma grande amizade pode atenuar a incerteza, como igualmente
é muito problemático deixarmo-nos apossar por valores e sentimentos que
, mais tarde, nos fazem sofrer, apanhar desgostos, eventualmente, para
o resto da vida.
Haverá pessoas que pela sua simplicidade, humildade, generosidade,
sinceridade, respeito e vergonha, que são verdadeiramente amigas,
manifestam sempre, através de “pequenas-grandes” coisas, que
são genuinamente confiáveis, em quem podemos acreditar, ter a certeza
que nunca nos vão enganar, que não nos vão magoar, defraudar, no limite
, desprezar.
São estas pessoas simples, a tocar as fronteiras da ingenuidade, da pureza
e da virtude que nos garantem estabilidade relacional, nos
entusiasmam, nos incentivam e nos defendem em todas as situações.
São elas que nos respeitam, a nós, aos nossos familiares e amigos.
São estas pessoas que nunca se aproveitam das nossas fragilidades,
desorientação e infortúnios da vida. São estas pessoas que tudo
fazem pelo nosso sucesso e felicidade: familiar, profissional e social.
São estas pessoas as nossas verdadeiras amigas.
Pessoas humanas simples, descomplexadas nos seus princípios, valores,
sentimentos e emoções, profundamente preocupadas com o nosso bem-estar,
que se revelam, diariamente, possuidoras de um espírito virtuoso, sempre
disponíveis para nos escutar, aconselhar, orientar. A pessoa simples,
facilmente se torna amiga, porque nela, praticamente, tudo é puro,
não há intenções inconfessáveis, porque ela sabe e deseja partilhar
as suas ansiedades, desejos, projetos, sucessos e fracassos.
Ela quer estar inequivocamente do nosso lado.
São estas pessoas simples, que por vezes se tornam nossas verdadeiras
amigas, e que até podem ser ignorantes, na perspetiva das
pessoas complexas, difíceis, calculistas e intelectualmente
desonestas. Claro que: «Existem pessoas que não sabem ficar sozinhas,
que precisam de alguém com quem interagir. Basta um ouvidor:
elas mesmas perguntam e respondem, têm revelações sem que o outro
explicitamente tome parte – a propósito, essa é a função do amigo.»
(NAVARRO, 2002:81).
A sociedade vive dias conturbados (2013). As relações interpessoais,
familiares, institucionais e sociais nem sempre decorrem com: harmonia,
respeito e dignidade. Em vez de se simplificarem as atitudes e
os comportamentos, parece que até há uma preocupação e um grande prazer em se dificultar a
vida às pessoas, eventualmente, com objetivos de notoriedade, a
qualquer título, e daqui resultar alguma influência em proveito próprio.
Os comportamentos “sofisticados” “afetados” ou demasiado liberais,
aqui no sentido da aparente boa convivência com “gregos e troianos”,
sabendo-se que se forem autenticamente imparciais, justos e assertivos,
não existem condições para uma tal “polivalência relacional”.
De resto, as pessoas envolvidas em certas atividades, conseguem
um tal “equilíbrio” que não corresponde à sinceridade, lealdade,
amizade e solidariedade, revelando assim um caráter do qual teremos
de nos dissociar, sob pena de perdermos a nossa credibilidade, dignidade
e respeito por nós mesmos.
Quando se abordam a simplicidade, humildade e lealdade das pessoas,
tal não significa que nos estejamos a referir a um qualquer estatuto,
mais ou menos importante e influente. Não estamos a privilegiar a:
sabedoria e/ou a ignorância; riqueza e/ou pobreza; letrado e/ou
inculto, aqui na perspetiva elitista, porque, antropologicamente,
todos temos uma cultura e nela somos cultos.
É, facilmente, demonstrável que existem pessoas simples, modestas,
humildes e leais em todos os: estratos da sociedade, classes
sócio-profissionais, escalões etários, gerações, dimensões político-económicas
, ético-morais e religiosas. Por isso não se pode estigmatizar as pessoas,
porque são difíceis, complexas e calculistas, por causa de um
qualquer estatuto, conhecimento, experiências, na medida em que o
contrário também será possível.
O que aqui importa é enfatizar a atitude simples, a palavra, o gesto,
o comportamento habitual, que assentam, essencialmente, nos
valores caraterísticos da naturalidade, como: a humildade, a modéstia,
a sinceridade, a assertividade e também em intervenções que, normalmente,
revelam timidez, uma respeitável vergonha na exposição, no exibicionismo, ou seja: pessoas que são, por natureza, recatadas, algo austeras e disciplinadas.
Viver a vida com simplicidade ajuda à harmonia, à alegria,
ao entusiasmo, à generosidade. Simplificar o discurso oral e
escrito, a intervenção social, política, profissional, religiosa
e empresarial, é um caminho possível para se: melhorar as
relações interpessoais; exercerem, eficazmente, os mais nobres
e positivos valores, numa cultura universal para a: paz, bem-comum
e felicidade dos povos e das nações.
Simplicidade combina com humildade. Daqui pode-se inferir que: «A humildade favorece a força de carácter: o humilde toma as suas decisões consoante o que achar ser justo e assim se mantém. Sem se inquietar com a sua imagem ou a opinião de outrem. (…) Exteriormente é meigo.» (RICARD, 2005:169).
Bibliografia
BRIAN L. Weiss, M.D. (2000). A Divina Sabedoria dos Mestres. Um Guia para
a Felicidade, alegria e Paz Interior. Trad. António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
CARVALHO, Maria do Carmo Nacif de, (2007). Gestão de Pessoas.
2ª Reimpressão. Rio de Janeiro: SENAC Nacional.
NAVARRO, Leila, (2000). Talento para Ser Feliz. 10ª Edição. S. Paulo: Editora Gente.
Direitos Cedidos para Edição portuguesa à Editora Pergaminho, Ldª., 1ª Edição. Cascais, 2002
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Trad. Ana Moura. Cascais: Editora
Pergaminho, Ldª.
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